BRASIL: O ALIADO REALISTA DO OCIDENTE


Lula da Silva foi (novamente) empossado presidente do Brasil em Janeiro último, após derrotar Jair Bolsonaro nas urnas. Ao mesmo tempo que tenta apagar o passado relativo às políticas do seu antecessor e o próprio passado do PT, analisaremos de que forma Lula pode reconfigurar as relações brasileiras com a União Europeia e com a NATO, (lembrando que o Brasil não é membro do pacto de defesa ocidental). Desta forma, tentaremos perceber também como se posiciona o Brasil relativamente à invasão russa e como esse posicionamento afetará esta aliança estratégica com o Ocidente. Que impacto têm as recentes declarações do novo presidente sobre o fornecimento de armas à Ucrânia? Quais os custos de apoiar integralmente os objetivos ucranianos?


Fonte: Poder360



A posição do Brasil nas RI


Por vezes o Brasil é esquecido como ator no sistema internacional, mas é importante relembrar que se trata do 5º maior país do mundo em área, com mais de 8.000.000 km2 de área, o que faz com que ocupe, sozinho, 47% do território da América do Sul, e que tem o 9º maior PIB do mundo. Seria, portanto, um erro considerar o Brasil um ator secundário. Pode não ter o mesmo peso de EUA, China ou Rússia, mas não por isso deixa de ter uma grande importância no quadro das relações internacionais.

Posto isto, e fazendo parte de um grupo económico não oficial com a Rússia e a China (BRICS), ao mesmo tempo que mantém relações particularmente interessantes com os EUA (essencialmente durante o mandato de Bolsonaro) e com a União Europeia (através dos diversos acordos com o Mercosul), a posição internacional do Brasil não é fácil de definir. Não podemos afirmar claramente o Brasil como um aliado dos EUA como podemos fazer com a União Europeia, que tem vindo a mobilizar recursos nos últimos meses para a Ucrânia. No entanto, não nos esqueçamos que, pelos tratados de fundação da NATO, apenas países Europeus podem ser convidados para pertencer à aliança atlântica, o que acaba por apenas levantar a possibilidade de nomear o Brasil como “major-ally” da NATO, sendo que, atualmente, apenas a Argentina detém esse estatuto entre os países sul-americanos. Assim, não podemos taxar o Brasil imediatamente como aliado ou inimigo do Ocidente, pois mantém relações económicas com este, mas também com potências que não o são. No entanto. não devemos esquecer a importância que teve para o funcionamento das relações com o Brasil a recusa do ex-presidente Bolsonaro em receber ajuda da Europa no combate aos fogos na Amazónia em 2019, algo que certamente terá manchado a imagem internacional do Brasil.


Fonte: Cartoon Movement




Trará Lula a perspetiva realista da paz na Ucrânia?


Com isto, podemos então classificar o Brasil como uma potência mais ou menos neutra no Sistema Internacional. Esta neutralidade veio a ser comprovada recentemente pelas declarações do presidente Lula sobre o fornecimento de armas à Ucrânia (posicionamento esse igualmente adotado pela China). Não estando o atual presidente totalmente errado em pensar que sem armas deixa de haver guerra, devemos ter em mente que um acordo de paz no imediato seria uma tremenda derrota para a Ucrânia, pois Putin certamente não quererá sair da guerra de mãos a abanar. Portanto, aqui, o Ocidente acaba por ter uma decisão importante em mãos: com o estado atual das coisas, simplesmente não é possível alimentar um discurso favorável ao fim da Guerra e ao mesmo tempo que se pretende que a Ucrânia atinja a ambição de recuperar totalmente o território perdido desde 2014. 

Assim, o Ocidente tem de optar entre defender integralmente as (justas) ambições ucranianas ou a paz a todo o custo, e talvez tenha sido Lula o primeiro a ver isso. No entanto, aplicar rótulos com base nestas constatações parece-me errado, por isso talvez devêssemos classificar Lula como “realista” e não “pró-Russo”. No resto, a visita do presidente brasileiro a Portugal é (mais) uma oportunidade para reforçar o diálogo entre Brasil e União Europeia e, talvez, dotá-la de novas perspectivas, menos enviesadas, sobre a situação na Ucrânia.



Fonte: NATO

Conclusão: defender a Ucrânia a todo o custo?


Finalizando, resta então perceber como podemos, enquanto Ocidente, olhar para o Brasil de Lula e entender as suas declarações. Um aliado não é apenas um Estado que deve concordar em todos os pontos da agenda internacional com o nosso. Já se provou anteriormente que as relações do Brasil com o Ocidente são de amizade (mas também as tem com outras potências) e Lula tentou fazer, enquanto aliado, o Ocidente perceber que possivelmente estará a ser irrealista se pensa que a paz na Ucrânia não se fará sem qualquer tipo de cedência às ambições de Putin. Assim seria desejável evidentemente, mas a realidade é que Putin não terá intenções de sair da Ucrânia sem ter conquistado nenhum dos seus objetivos e, aqui, a Europa e a NATO terão de fazer uma escolha: a paz a todo o custo, ou a defesa integral dos objetivos ucranianos, duas realidades diametralmente opostas.


Comentários

Mensagens populares