Entre a Espada e a Parede: O dilema económico chinês da Guerra na Ucrânia

Em meio a mais um sangrento conflito no continente Europeu, que opõe uma superpotência mundial, que considera o país que invadiu como seu, por direito, devido ao histórico entre ambos, e um Estado com uma capacidade de defesa bem menor que o rival e uma economia e população mais pequenas, os interesses envolvidos nesta guerra dizem também respeito a terceiras partes, nomeadamente o Ocidente e a China, esta última que, em contínua ascensão, vê-se agora encurralada entre ajudar a Ucrânia, ou a Rússia, colocando a sua economia em risco.


Na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, o mundo inteiro assistiu impotente a uma invasão a larga escala da Ucrânia, pela Federação Russa, que tinha como objetivo entrar pelo Donbass, área com influência Russa desde 2014, procurando capitular Kiev e conquistar o Estado Ucraniano, garantindo assim um espaço que, segundo Putin, é dos russos, e desnazificar e desmilitarizar o território ucraniano na sua totalidade, mantendo desta forma a ordem e a paz, de acordo com o Estado Russo; estava dado o pontapé de saída para um conflito que não só iria opor dois Estados, como também iria arrastar consigo outros atores internacionais, em nome de interesses geopolíticos, económicos e militares.

Como em qualquer guerra, serão sempre necessárias alianças, ou seja, acordos de apoio com outros Estados, de forma a receber ajuda económica e militar para dar continuidade aos esforços das partes envolvidas diretamente no conflito, basta vermos as Primeira e Segunda Guerra Mundiais, Guerra do Vietname, Guerra da Coreia, entre várias outras, e neste caso, não foi diferente. Do lado ucraniano, a NATO e a UE são quem garantem o apoio para fazer face ao agressor russo, através de armamento e dinheiro, de modo a evitarem que a Rússia se vá alastrando pelo leste europeu, levando consigo a sua influência e ideias antagónicas aos valores ocidentais; já do lado russo, para além do uso reciclado da máquina de guerra soviética e de uma maior produção de armas, são também seus aliados o Irão, que entregou drones para ajudar na guerra pelo ar, a Bielorrússia que disponibiliza o seu território para envio de tropas e ataques com mísseis, e estados como a Síria, Venezuela, Eritreia e Coreia do Norte, que não condenam a invasão russa na ONU.

Porém, há ainda um terceiro ator bastante relevante no conflito que opta por adotar uma posição de quasi neutralidade, servindo de “agente duplo” no meio da guerra, que é a China; estando em contínuo crescimento, e aproximando-se de ultrapassar os EUA, como a grande superpotência mundial, o “panda asiático” tem conduzido a sua política externa, em relação às disputas entre Rússia e Ucrânia de uma forma ambígua: isto porque, ao mesmo tempo que se voluntaria para fornecer ajuda humanitária a Zelensky e traça um plano de paz com 12 pontos estruturais, similar ao que foi proposto por Woodrow Wilson aquando da 1ª Guerra Mundial, procurando, tal como a Turquia, servir de mediador neste conflito, os Chineses são também acusados pelos EUA e restante comunidade internacional, de estarem a fornecer armas à Rússia, e são, neste momento o maior parceiro comercial da Federação Russa, comprando gás e petróleo a esta, em dobro em relação a tempos de paz, fazendo face às sanções ocidentais através desta preciosíssima ajuda chinesa.

Apesar da contínua e já sabida ajuda à Rússia, que beneficiaria também a China, na medida em que teria um aliado de equilíbrio internacional, na luta contra a hegemonia Norte-Americana, o status de “agente duplo” do país asiático sai reforçado, já que este também sabe que sem o ocidente, não tem acesso aos mercados comerciais europeus, da tecnologia e da finança, e perde potencial capital estrangeiro, e acesso à mais alta tecnologia, algo extremamente necessário na era da revolução digital, para além de se poder aproveitar de uma Rússia mais fraca, para expandir a sua influência na ásia central e ter acesso a espaços comerciais russos, no que diz respeito a matérias primas, como o petróleo, gás natural, e minérios.

Fonte: Taiwan News (2022)


Com base em toda esta informação, Xi Jinping tenta, da forma mais ardilosa possível, agradar a gregos e troianos, tendo sempre em vista defender os interesses do Estado Chinês, já que sabe que tem tudo a perder a nível económico, com esta guerra a colocar em xeque o seu projeto de uma nova rota da seda, que atravessa a Turquia, e passa pela Ucrânia e Rússia, as relações comerciais e investimentos com a Ucrânia, nomeadamente a compra de cereais e ferro, e de material militar, e ao mesmo tempo a nível militar, as consequências que apoiar “em demasia” o país invadido, teria nas ambições chinesas de anexar Taiwan, algo que deixa efetivamente o líder chinês entre a espada e a parede.



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