EUA e China - Porque a Guerra Fria nunca acabou

 





Num período bastante conturbado como o que vivemos, é importante analisar o estado das relações entre os dois estados com mais poder e força no Sistema Internacional. Desconfianças de parte a parte são antigas, nomeadamente no que toca a acusações de espionagem de diversos tipos, mas destacando-se a cibernética. Procurar-se-á fazer um breve resumo sobre a evolução recente da relação entre Estados Unidos e China, a forma como o mundo “gira” em torno desta, a importância destes países na guerra e como os seus interesses moldam o futuro. Da guerra comercial, passando por Taiwan e Hong Kong, a crise dos semicondutores e acusações de espionagem, tudo isto tem impacto além das fronteiras dos dois Estados. O que levou à tensão verificada após o recente abate de um balão de fabrico chinês?

Procuraremos dar ainda resposta à seguinte pergunta retórica: a Guerra Fria acabou mesmo em 1993? A queda do Muro e da União Soviética não foram signficado da Paz Perpétua nem do Fim da História como Kant e Fukuyama preconizaram...

                           

  Fonte: The Washington Post


PANORAMA GERAL


    Talvez não valha a pena especificar a origem das tensões entre a China e os Estados Unidos, não sendo objetivo desta análise uma revisão histórica, mas sim o foco na atualidade. Podemos afirmar que as relações entre os Estados Unidos e a China resfriaram bastante a partir de 2018, desde as sanções por parte do Governo de Trump à Huawei, restringindo-a de negociar com empresas americanas, nomeadamente a Google, verificando-se impactos significativos nas vendas da gigante chinesa na Europa nos anos seguintes

As manifestações de 2019 em Hong Kong contra a polémica lei de deportação também são um marco no desenvolvimento das relações, com acusações da China de suporte a forças “anti-China” com o objetivo de desestabilizar politicamente a região sob administração de Pequim. A isto, junta-se ainda a questão de Taiwan, uma antiga ambição da China, e na qual os Estados Unidos têm feito esforços no sentido de impedir que o território mantenha a sua independência e, em ambos os casos, o respeito pelos direitos humanos. A questão em específico de Taiwan tem impacto no setor da tecnologia e automóvel, devido ao fabrico de semicondutores em Taiwan estar a ser travado pela China.




    2020, ano marcado pela pandemia, foi um decisivo no desenrolar da relação entre as duas superpotências. Em Janeiro, a administração Trump barrou a entrada nos Estados Unidos de cidadãos não-americanos vindos da China, ambos os lados montam campanhas de desinformação sobre o desenrolar da pandemia, culpando-se mutuamente pelo sucedido. Para além disto, regista-se também a expulsão por parte do Estado chinês de jornalistas americanos, a ordem dada pelo Governo de Trump de encerrar o consulado chinês em Houston. Tudo isto contribuiu para um acumular de tensão que a própria administração Biden, apesar de visivelmente mais receptiva a relações com a superpotência asiática, está a ter dificuldades em gerir, o que culmina no abate do balão de fabrico chinês sob acusações de espionagem do lado americano.



                                                                                        
                                                                      Fonte: TuslaWorld


O PAPEL DA CHINA E DOS EUA NA GUERRA 


    A Europa está em guerra há um ano, e sendo este um acontecimento de grande impacto no nosso dia-a-dia, vale a pena tentar perceber o papel das duas maiores superpotências mundiais neste conflito. Os EUA, como “cérebro” da NATO, acaba por ser o maior aliado da Ucrânia, fornecendo armamento a Kiev  (e lucrando muito com isso), condenando as ações de Putin em território ucraniano e mostrando apoio ao executivo de Zelensky consecutivamente em território ucraniano desde o dia 0 da Guerra, não necessariamente tendo um discurso ou ação apaziguadoras, o que tem acontecido do lado da China, com maior relutância no apoio à Rússia, inclusive abstendo-se no voto de condenação à Rússia em sede de Assembleia Geral da ONU em 2022. Xi Jinping tem se encontrado com Putin ao longo do último ano no sentido de tentar demover Moscovo das suas intenções na Ucrânia e inclusive mostrando-se disponível para intermediar uma solução de paz. Também importa lembrar que Moscovo e Pequim têm uma relação histórica por via ideológica a manter, e como tal estas disponibilidades não serão de todo inocentes.


                                                                     Fonte: TaiwanNews                     

GUERRA FRIA NO SÉCULO XXI? COM CERTEZA!


    É costume marcar historicamente a queda do muro de Berlim em 1989 como a data do fim da Guerra Fria, e a própria dissolução da URSS anos depois levaria Fukuyama (e talvez todo o mundo ocidental) que a história teria “acabado”, que a ameaça russa/soviética terminara e que estava aberto o caminho para a Paz Perpétua como idealizou Kant. A verdade é que desde a era Xiaoping a China vinha ganhando preponderância enquanto um modelo de capitalismo de Estado, que conseguiu captar investimento estrangeiro pela mão de obra barata, e acabou, com isso, por “tomar” o lugar da URSS como potência económica, potência económica essa que virou militar. Com esta ascensão económica, seguindo as teorias clássicas realistas das Relações Internacionais, um Estado colocará sempre os seus interesses e ambições próprios acima de qualquer desejo pelo bem-estar do mundo (e disso os “democráticos” Estados Unidos também são exemplo). Se algum dia poderemos encontrar uma forma de servir os interesses de duas superpotências mundiais ao mesmo tempo ao fazê-las cooperar? Da última vez que isso aconteceu, uma delas caiu em desgraça em 1991, e não acredito que alguma delas queira repetir esta história. No fim de contas, não há como contrariar Hobbes, pois o Homem será sempre o maior inimigo do Homem. Com isto, conclui-se dizendo que a paz na Europa está nas mãos destes dois por muito que desconfiemos deles, e é bom que o façamos, a bem da manutenção da democracia e da defesa do espírito crítico.


                               
                                                                  Fonte: Blog Vetustideces


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