Nova ordem mundial está a surgir: como a guerra na Ucrânia contribui para uma mudança no sistema internacional.
Jaime Nogueira Pinto, num artigo para o observador escreve: “são as guerras, as grandes guerras, que sempre marcam o fim e o princípio das ordens mundiais, quer na repartição do território, quer na determinação dos valores dominantes”, de facto, a ordem mundial que hoje conhecemos foi-se impondo desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando o Ocidente e, em particular os Estados Unidos, moldaram os vários acontecimentos históricos, traçando uma ordem mundial liberal.
Durante muito tempo esta ordem
internacional perdurou, no entanto, cada vez mais, dá sinais de que está achegar ao fim. Em primeiro lugar, evidenciada pela ascensão da China, que
tem adotado uma abordagem mais autoritária em relação à sua política interna,
assim como, não adere ao mesmo conjunto de valores democráticos e liberais,
reconhecidos pelo Ocidente. Em segundo lugar, confirma-se a perda de
legitimidade no sistema multilateral, patente na ineficácia do Conselho de Segurança e na afirmação de Trump – “NATO is obsolete” – , que se
traduz no aumento do nacionalismo e do populismo que, enfraquecem as normas e
instituições internacionais. Na mesma orientação, problemas transnacionais, como
as alterações climáticas e o crescimento da desigualdade criam desafios globais
que exigem uma resposta conjunta.
Acresce que agora, a guerra é uma
vez mais uma realidade na Europa e, a ordem internacional vê-se também
desafiada pelo retorno da geopolítica e das velhas alianças militares.
A posição da China tem sido
controversa, por um lado, evidente pelo não alinhamento ao lado dos Estados Unidos e da União Europeia acerca das sucessivas sanções económicas e políticas
e, por outro lado, parece estar a colaborar indiretamente ao lado da Rússia.
As relações sino-russas são conhecidas pela aliança estratégica, assente em interesses económicos e geopolíticos partilhados. Antes do início da guerra, os presidentes Xi Jinping e Putin anunciaram uma “parceria sem fronteiras”; ao mesmo tempo que, reafirmaram a segurança militar ao longo da sua fronteira territorial. Na verdade, a cooperação entre este dois países tem aumentado em várias áreas, incluindo comércio, energia e diplomacia. Importa salientar que, a longo prazo a China é uma grande beneficiária da guerra, pois as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, fazem da China uma linha direta de transações de grande importância, isto significa, que a Rússia ficará dependente da China e, possivelmente irá ver-se forçada em alinhar em interesses estratégicos do seu parceiro.
A China e a Rússia consideram-se na
vanguarda em oposição à predominância ocidental, pois partilham de uma visão do
mundo multipolar. Em função disso, estão desejosos de trazer mais países a
bordo, como constatado na última cimeira dos países do BRICS em junho de2022, onde alegaram em favor da expansão do grupo BRICS+, de modo a criar um contrapeso ao G7. Este alargamento mostra que, por mais que a China e a
Rússia persigam a multipolaridade, na verdade estão a convergir em direção de
uma bipolaridade de forças, na qual conduziriam uma ampla aliança de países face
ao domínio do Ocidente.
A guerra também deu um novo impulso
à antiga aliança. Já
desde há muito tempo, que a questão da vitalidade da NATO tem dividido policy
makers e académicos, trazendo para o debate várias abordagens face à guerra.
Até ao presente momento, não houve uma intervenção militar direta da NATO na
guerra. No entanto, tem desempenhado um papel importante em resposta à crise na
Ucrânia, fornecendo assistência financeira, diplomática e militar ao governo
ucraniano.
Os pedidos de adesão à NATO por
parte da Finlândia e da Suécia, não só confirmam uma significativa mudança ideológica, como também têm implicações na questão de segurança, pois irá
expandir significativamente as capacidades da NATO até às porta da Rússia, nomeadamente
no Mar Báltico, ao longo da fronteira terrestre Finlândia-Rússia e no círculo
polar ártico. Estes dois países podem contribuir com recursos consideráveis,
pois têm forças armadas bem financiadas e abordagens de defesa total, o que lhe
permite mobilizar tropas e recursos com eficiência.
A União Europeia foi profundamente afetada pela guerra na Ucrânia. Desde logo, nasceu uma onda de solidariedade que, levou as cores azul e amarelo, por toda a Europa. Estima-se que a União Europeia tenha acolhido 4,8 milhões de refugiados, o que obrigará os estados-membros a repensar a política de migração e asilo. Importa referir e sublinhar a integração da Geórgia, Moldávia e Ucrânia na EU, que ajudará a criar exemplos bem-sucedidos de processos de democratização, tendo um impacto significativo na credibilidade do regime russo.
Dada a complexidade da atualidade, é difícil prever como é que a ordem mundial evoluirá. Tudo dependerá dos comportamentos adotados pelos vários atores internacionais. No entanto, sabemos que quem ganhar a guerra irá redesenhar a ordem internacional e determinar os valores a seguir.
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