BRICS: na vanguarda por um mundo multipolar
A génese do projeto do BRICS estabeleceu uma união económica, porém, a ascensão do poder económico global dos membros do grupo, desencadeou uma disputa pela liderança multipolar do sistema internacional.
A ideia do BRICS remota a 2001, quando o economista Jim O’Neill sugeriu o acrónimo ‘BRIC’ para descrever as economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China que, na viragem do milénio pareciam mais propensas de alcançar o poder económico do Ocidente. O termo foi popularizado e adotado pelos governos dos quatro países, que em 2009 reuniram-se com o objetivo de reformar as instituições financeiras de forma a aumentar o multilateralismo e criar um fórum económico não ocidental, de modo a inserir as potencias emergentes na ordem internacional. Se, por um lado, esta cimeira foi entendida em desafio à hegemonia dos Estados Unidos e como contrapeso ao G7, por outro lado foi reconhecida com sucesso, tendo alcançado o robustecimento do status internacional de cada membro do BRIC e que, mais tarde, levou à integração da África do Sul no grupo, acrescentando o “s” ao BRICS.
Desde então, o BRICS tem realizado cimeiras com uma agenda cada vez mais ampla, com o objetivo de discutir e desenvolver a cooperação económica e financeira entre outras economias emergentes e países em desenvolvimento. Foi sob estas orientações que, na V Cimeira do BRICS surgiu o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o Arranjo Contingente de Reservas (CAR), iniciativas que transformaram o quadro internacional para o financiamento multilateral contribuindo significativamente no processo de aceleração do crescimento económica, altura em que o Ocidente recuperava de uma recessão económica considerável.
O que torna o BRICS tão poderoso e influente é graças ao ranking que ocupa em termos populacionais. Todos os países membros, exceto a África do Sul abrigam as dez maiores populações do mundo, o que perfaz no total 41% da população total do mundo. De acordo com as estatísticas em2021, os membros do BRICS representavam cerca de 30% do mapa geográfico, 25% do PIB mundial nominal e mais de 18% do comércio mundial. Segundo o The Times of India o PIB das nações do G7 com base em PPC (paridade do poder de compra) reduziu, de 50,42% em 1982 para 30,39% em 2022, enquanto o PIB das nações do BRICS aumentou de 10,66% em 1982 para 31,59% em 2023.
À medida que o BRICS se tornou cada vez mais formalizado e institucionalizado, através da realização de cimeiras anuais, estabelecendo órgãos coletivos e alcançando resultados económicos excecionais, desenvolveu uma cooperação entre os membros em matéria política, projetando o desejo de construir um mundo multipolar. Em conformidade com esta ideia, na XIV Cimeira do BRICS, em junho de 2022, tanto a China como a Rússia afirmam o desejo de trazer mais países a bordo que partilham de uma visão não ocidental do sistema internacional. A Argentina, o Irão, a Arábia Saudita e o Egito já pediram adesão ao BRICS, confirmando o interesse do grupo em ampliar a sua rede de influência, numa altura em que as relações sino-americanas se encontram em tensão.
Muitos receiam, que esta crescente influência possa ser acompanhada pela normalização de formas autoritárias de "capitalismo de estado" e até mesmo pelo declínio da ordem liberal. A guerra na Ucrânia, mostra como esta afirmação, cada vez mais, se torna plausível, pois a posição adotada por todos os membros do BRICS ao oporem-se ao alinhamento dos Estados Unidos e da União Europeia nas sucessivas sanções económicas e restrições financeiras, provoca a ordem liberal e os valores democráticos. Na verdade, o comércio entre o Brasil e a Rússia aumentou, bem como, o comércio entre a China e Rússia, fazendo destes dois países, parceiros comerciais muito relevantes sem os quais a Rússia não consegue sobreviver.
Não há dúvida de que, o panorama da economia global está a mudar e as economias do BRICS poderão aumentar a sua participação na produção mundial. As taxas de crescimento económico levarão a que estes países possuam voz, não só em questões de política económica internacional como em questões que transformem a ordem mundial estabelecida.
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