CHINA-BRASIL: O REAFIRMAR BRASILEIRO NA POLÍTICA EXTERNA

 Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (Presidente da República Federativa do Brasil), o Brasil procura renovar a sua influência no Sistema Internacional e fortalecer as suas relações com as potências mundiais. É através da visita de estado à China, realizada de 12 a 15 de Abril, que o Brasil realmente volta a abrir-se ao mundo. Os atores internacionais estiveram de olhos atentos à visita que ficou marcada pelo reforço das relações comerciais bilaterais e o posicionamento do Brasil em relação ao conflito na Ucrânia.



 Ken Ishii/Pool via REUTERS

 As relações diplomáticas entre a República Popular da China e a República Federativa do Brasil tiveram, oficialmente, início em 1974, através do acordo sobre o estabelecimento e funcionamento da embaixada da China em Brasília e da embaixada do Brasil em Pequim. Desde então, a relação bilateral desenvolveu-se bastante sobretudo com base na igualdade, não-interferência, e no benefício mútuo.
 No entanto, o começo do mandato do ex-presidente do Brasil (Jair Bolsonaro) ficou marcado pelas duras críticas de Jair Bolsonaro ao Partido Comunista Chinês, interferindo  com as relações diplomáticas nos últimos 4 anos.  É nesta visita de Lula à China, que o Brasil demonstra a importância que a relação Brasil-China tem no reavivar da política externa do “Gigante Sul-Americano”.

 Desde 2004, ano em que Lula faz a sua primeira visita ao país asiático, o comércio entre os dois países aumentou 21 vezes, e em 2009, os Estados Unidos da América (EUA) deixam de ser os maiores parceiros comerciais do Brasil sendo ultrapassados pela China que ocupa o lugar de maior parceiro comercial do Brasil até hoje. Poucas semanas antes da visita de Lula à China, um acordo de comércio e investimento no Yuan foi estabelecido durante o Seminário Económico Brasil-China, demonstrando assim uma vontade política, mas sobretudo económica, do Brasil  em fortalecer a sua relação com a China.

 Contudo, ao analisarmos a nova estratégia de política externa brasileira verificamos a presença de uma abordagem mais construtivista, na medida em que, este ator internacional (Brasil) tem a sua identidade firmada nos seus interesses e busca influenciar atores internacionais e estruturas, nomeadamente nas parcerias económicas e diplomáticas, mas também acabando por ser influenciado pelos mesmos. A política de não alinhamento tem como principal objetivo evitar compromissos, posicionamentos fixos com as grandes potências mundiais, por isso países em desenvolvimento, como o Brasil, buscam aplicar esta política como uma estratégia de Política Externa defensiva.

 No entanto, durante a visita à China o Presidente brasileiro Lula da Silva acabou por fazer uma série de comentários que apoiavam de forma similar posições chinesas de longa data e que estabeleciam uma distância política entre o Brasil e os EUA. Para além disso, o Brasil já havia condenado a Invasão da Rússia à Ucrânia, porém o Governo Lula apresentou-se neutro em relação ao conflito, negando propostas de atores ocidentais, como a Alemanha, para vender munições aos ucranianos. Isto, com o pretexto de que mais armamento apenas resultaria em mais guerra e não seria de ajuda para trilhar um caminho de paz.

“Eu acho que é preciso que a União Europeia e os Estados Unidos tenham boa vontade, que o Putin e o Zelensky tenham boa vontade para a gente voltar a ter paz no mundo. (...) eu acho que terceiros países, que mantenham boas relações com os dois, precisam criar as condições de termos paz no mundo. Não precisamos de guerra.”

 A programação da visita realizada a convite do governo de Xi Jinping, ficou marcada pelo encontro entre os homólogos, Lula da Silva e Xi Jinping, as visitas oficiais a Beijing e Shanghai, a discussão e assinatura de 15 atos oficiais e 20 novos acordos sobretudo ligados ao comércio, agricultura, pecuária, a luta contra a pobreza e erradicação de adversidades sociais, inovação industrial e tecnológica, turismo, investimentos na distribuição de energia, alterações climáticas, cooperação espacial. Contando com uma forte presença de cerca de 40 membros do Congresso brasileiro, assim como, vários líderes empresariais e  membros dos governos chinês e brasileiro.

  No âmbito das organizações internacionais e estruturas multilaterais tanto o Brasil, como a China consideraram positivo a coordenação e diálogo que ambos têm tido. É com o objetivo de também poderem continuar esse trabalho mais fortes nestes dois aspetos referidos que  os canalizam, nos trabalhos da ONU e em outras organizações multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, bem como em agrupamentos multilaterais como o G20, o BRICS e o BASIC. Apoiado pela China, o Brasil será pela primeira vez, sede da  reunião anual dos chefes e primeiros-ministros do G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta, em 2024.

 Em suma, para o Brasil que em 2022 exportou US$ 91,26 mil milhões de Dólares para a China, enquanto importou US$ 61,5  mil milhões de Dólares em produtos manufaturados da China, a visita de estado foi de extrema importância para o reafirmar brasileiro no que diz respeito às parcerias diplomáticas e económicas, bem como, da sua influência no Sistema Internacional ao procurar ascender enquanto potência mundial. Após cerca de 100 dias desde a sua Tomada de posse, e tendo visitado países como a Argentina, EUA e Uruguai, é na visita à China que Lula ganha a visibilidade internacional desejada, especialmente, depois da tentativa de criar com a China uma espécie de grupo neutro para auxiliar a Rússia e Ucrânia estabelecerem um acordo de paz.


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