Corrida pela Inteligência Artificial: O que impede a União Europeia de ganhar?
Beatriz Simões discorre sobre a atual corrida internacional pelos avanços da Inteligência Artificial, fazendo, para isso, uma análise das condições de partida da União Europeia e uma avaliação comparativa da sua posição numa corrida que marcará, de forma predominante, a economia internacional.
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Imagem 1 Fonte: Center for Data Innovation |
Em fevereiro de 2020, a União Europeia deslindava as estratégias para uma transformação digital de Inteligência Artificial e gestão de dados. Com os objetivos organizados em “tecnologia para as pessoas”, “uma economia justa e competitiva” e “uma sociedade aberta, democrática e sustentável” e com um prazo de implementação de 5 anos, a Comissão Europeia perspetivava-se como um agente líder de Inteligência Artificial de confiança.
É, tendo por base o princípio da confiança, aquando dos avanços e regulamentações na área tecnológica - nomeadamente da Inteligência Artificial, que a União Europeia se estabelece na esfera global e, também, como é percecionada pelos demais atores e analistas.
A análise implica, portanto, a própria consciência de que, aquando de uma corrida global pelo alcance de uma preponderância económica, também ela global, há variados fatores que resultam nos outcomes dos variados Estados envolvidos. Importa, no primeiro momento, perceber que a comparação com uma pista de corrida única, material de corrida uniformizado e pontos de partida nivelados para todos os envolvidos, não é uma realidade. As diferenças iniciam-se, logo à partida, pelas regras que cada ator internacional decide orientar-se por, durante a corrida, num contexto de anarquia internacional. Pois se a União Europeia quer primar a sua participação com valores éticos, regulamentados e justos aos cidadãos, terá de se preparar, também, para uma posição global que não permite competir pelo primeiro lugar ocupado por atores internacionais cujas guidelines podem ser diferentes.
Sendo analisado como um argumento justo, não invalida a perceção dos europeus que, numa sociedade globalizada, não encontram as condições que, noutras posições geográficas, facilmente encontrarão. Bem como pode representar, ainda, inputs de dinâmicas políticas internas nos Estados Membros e na própria União Europeia por descontentamento de oportunidades. Esta discussão, embora não recente, é a mais atual da área tecnológica. Com o surgimento de realidades tecnológicas de aplicação de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, a ética alicerçada à inovação científica e tecnológica volta a ser a ordem do dia, numa temática por conta da sua própria natureza, inacabável.
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Imagem 2 Fonte: Science Business |
Volvidos, no entanto, aproximadamente, três anos desde a publicação dos objetivos orientados para o desenvolvimento da Inteligência Artificial no contexto europeu, somam-se as análises cujo diagnóstico de resultados não alcançam a meta proposta. A falha no cumprimento dos objetivos delineados representa, ainda, um perigo geopolítico para a União Europeia, resultante de um atraso no desenvolvimento destas tecnologias. Estima-se que, anualmente, o investimento da União Europeia na área da Inteligência Artificial é de mil milhões de euros, comparado com o investimento dos Estados Unidos da América de 5.1 mil milhões de euros e 6.8 mil milhões de euros investidos pela China. As disparidades orçamentais constatadas são sintomáticas, à partida, das diferentes posturas e posições de partida de cada ator internacional no contexto da corrida por esta tecnologia.
Derivados analistas apresentam, no entanto, recomendações e estratégias que poderão colmatar as diferenças atuais no panorama do avanço científico e tecnológico da Inteligência Artificial do contexto europeu. A abordagem tripartida, avançada, por exemplo, por Robert Veldhuizen, um Intelligence Analyst, remete para um deslindar de prioridades organizadas. Primeiramente, importa a criação de um ambiente fértil de start-ups, através do contínuo financiamento e apoio da inovação. Estando, no entanto, e invariavelmente, alicerçado a um segundo pilar remetente para a necessidade desse apoio ser direcionado ao avanço cuja aplicação prática após inserção no mercado seja sintomático de soluções prontas e aplicáveis. Mercado esse referente a, por exemplo, o Reino Unido e os Estados Unidos e fechando, desta maneira, a quebra existente entre o mercado global da IA (Inteligência Artificial) e, simultaneamente, colocando, agora sim, a União Europeia no centro das negociações relacionadas com esta tecnologia.
Estas duas prioridades só se apresentam como possíveis fundamentadas no terceiro pilar – uma abordagem unificada. Apesar de, proveitosamente e necessariamente, cada Estado Membro apresentar o seu plano estratégico (consultar imagem 3), a resposta de bloco é a frente necessária numa corrida versus os Estados Unidos da América e a China.
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Imagem 3 Fonte: Carnegie Endowment for International Peace |
Certo é que o ponto de partida da União Europeia, no que de recursos concerne, não se apresenta em desvantagem no panorama global. Dotada de talento humano, empreendedorismo, recursos tecnológicos, e um pré-existente e avolumado desenvolvimento em robótica, a União Europeia apresenta-se altamente equipada para se juntar a uma corrida ao pódio da inovação em IA.
O modelo legal pelo qual se rege deve apresentar-se, à partida, como uma vantagem, e não contratempo de percurso naquela que é a corrida que ditará as posições das economias estatais no mercado global.
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