Acordo Entre Iraque E Irão: Novo Desenvolvimento Na Perseguição Ao Povo Curdo
O
secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, Ali Shamkhani, assinou
um acordo com o conselheiro de segurança nacional do Iraque, Qasim al-Araji, na
presença do primeiro-ministro iraquiano, Mohammed al-Sudani,
a 19 de março deste ano em Bagdá, com o intuito de reforçar a segurança nas fronteiras.
O acordo determina que o Iraque compromete-se a reprimir os grupos de oposição
iranianos-curdos estabelecidos na região curda iraquiana. Além disso, inclui a
coordenação para “proteger as fronteiras comuns entre os dois países e
consolidar a cooperação em vários campos de segurança”, segundo o primeiro-ministro iraquiano.
O Irão acusou grupos armados curdos de uma parceria com Israel e expressa
preocupação pela suposta presença da agência de espionagem
israelense Mossad na região curda iraquiana. Além disso, acusou
grupos armados iranianos-curdos de coordenar ataques contra o Irão, a partir de
território iraquiano, para prestar apoio aos protestos após a morte de Mahsa Amini, uma
jovem iraniana-curda que morreu enquanto se encontrava detida pela polícia da
moralidade de Teerão, no ano passado. Ataques com mísseis e drones
foram lançados pela Guarda Revolucionária do Irão contra grupos curdos
iranianos baseados no norte do Iraque, acusados de fomentar os protestos em
honra de Amini.
Jina Mahsa Amini,
uma mulher curda iraniana de 22 anos, foi presa pela polícia moral iraniana
em Teerão por, supostamente, não aderir ao dress code do país estabelecido para
as mulheres. Encontrava-se à saída do metro, junto ao seu irmão Kiaresh, quando
foi parada por um agente que a informou que o seu véu não estava colocado de
maneira correta e que teria de ser levada à esquadra da polícia para uma lição.
Saiu do quartel duas horas mais tarde num coma e mais tarde foi declarada a sua
morte. O falecimento de Amini gerou uma série de protestos em todo o país e a Guarda Revolucionária Iraniana
reforçou a sua posição nas regiões noroeste do país como resposta ao que
chamaram de atividades de “bandidos armados e terroristas
separatistas”. As autoridades iranianas
não divulgaram o número oficial de pessoas mortas desde o início dos protestos,
no entanto, a ONG HRANA (Human Rights
Activists News Agency) elevou para 522 o número de casualidades no Irão nas
manifestações desencadeadas pela morte de Amini.
A persecução aos curdos não tem equivalente, formam a maior
nação do mundo sem estado e não contam com apoio nem a nível regional nem
internacional. “No friends but the mountains”
é um antigo provérbio curdo que ainda se aplica. Estima-se que habitam na
Turquia, Iraque, Irão, Síria e Armênia, cerca de 40 milhões de curdos,
mas a grande maioria vive na Turquia, constituindo quase um terço da população.
O povo curdo está a ser atacado tanto na Síria, pela Turquia, como no norte do Iraque,
pelo Irão. Há apenas uns meses a Turquia lançou a chamada “Operation Sword-Claw”
ao bombardear grupos curdos na Síria, além de acusaram os combatentes curdos do
PKK (Partido dos
Trabalhadores do Curdistão) e YPG (Unidades de
Proteção Popular) da Síria de serem responsáveis por um ataque em Istambul. A
operação foi levada ao mesmo tempo que a campanha aérea do Irão contra o
Curdistão iraquiano.
Segundo Adel Bakawan,
diretor do French Research Center no Iraque, não existem provas concretas de
que a Turquia e o Irão estejam a coordenar os seus ataques contra o povo curdo,
no entanto, essa hipótese não pode ser descartada. Os dois países estão a
passar por fases complicadas, a Turquia devido a uma grave crise económica e
pela posição frágil em que o presidente turco Recep Erdogan se
encontra face às eleições presidenciais de junho de 2023 e o Irão pelos
protestos que não dão sinais de acabar. Visto que são vistos como ameaças à
integridade territorial de ambas as nações , os curdos são o bode expiatório ideal
para a Turquia e o Irão no meio dos seus períodos de crise. O Irão está a
tentar apresentar este movimento de protestos como uma “agitação pela
independência em partes do país habitadas pela minoria curda”, o que não tem resultado já que são protestos que se
espalharam por toda a nação. Os manifestantes veem Mahsa Amini como um símbolo
nacional da sua luta.
Portanto, é para o Irão mais fácil
atacar o Curdistão iraquiano. Acusou tanto o Partido Democrático do Curdistão
Iraniano como o grupo nacionalista curdo-iraniano Komala de incitarem
protestos. Ambos os grupos sofreram bombardeamentos que
afetaram as suas instalações no norte do Iraque. O Curdistão iraquiano
é um alvo fácil, os iranianos sabem que o podem atacar sem muitos protestos de
Bagdá ou do Ocidente. E o mais recente ataque vem na forma deste acordo entre
Iraque e Irão no qual o Iraque se compromete a reprimir os grupos de oposição
iranianos-curdos estabelecidos no Curdistão iraquiano. É uma mensagem para
Bagdá, mas também para o Governo Regional do Curdistão
(KRG).
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