O armazenamento de armamento nuclear russo cada vez mais perto da Europa: o papel da Bielorrúsia e as suas relações

(Fonte da imagem: President of Russia in: http://en.kremlin.ru/events/president/news/70530 

    Numa declaração à televisão estatal russa no dia 25 de março deste ano, o Presidente Vladimir Putin anunciou que irá relocalizar algumas armas nucleares, armazenando-as em território vizinho, na Bielorrússia. Desde 1990, quando a URSS colapsou, até 1996 as ogivas nucleares russas foram todas transferidas para o seu território ‘natal’, desta forma, este é um acontecimento histórico e especialmente preocupante no contexto atual de guerra na Ucrânia.

    Contextualizando, as relações bielorrussas com a Rússia têm vindo a desenvolver-se. Essencialmente pela necessidade de apoio económico e político por parte do Presidente Aleksandr Lukashenka. Estas ligações têm sido entendidas como negativas por vários jornalistas nacionais e pela oposição pelos planos secretos revelados à mídia, datados de 20 de fevereiro de 2021, onde se compreendia a formação de um estado de União de pleno direito até 2030. Indicando que a independência da Bielorrússia e de outros estados seria fortemente comprometida. Esta informação ganha uma particular relevância à luz dos 28 ‘programas sindicais’ para maior integração, desenvolvidos pela Rússia para a Bielorrússia, de novembro de 2021. Nestes, algumas das disposições do supramencionado plano já se encontram em prática. Posteriormente, as relações entre os estados estreitaram-se militarmente quando a Bielorrússia permitiu que o exército russo utilizasse o seu território para atingir o seu objetivo de invadir a Ucrânia, em 2022, sendo o regime bielorrusso um defensor da mesma.

    Não existem indicações de quando é que as armas serão transportadas, mas o presidente confirmou que se está a construir um edifício de armazenamento para as mesmas que estará pronto em Julho.

    Mas que armas serão transportadas para fora do território russo? Estas serão armas nucleares táticas, utilizadas para atingir alvos específicos no campo de batalha mas os mesmos necessitam de um sistema de lançamento, os misseis táticos Iskander que, em pequenas quantidades, já foram transferidos para a Bielorrússia. Embora não sejam armas com a mesma capacidade que outras, como as armas nucleares estratégicas com capacidade para destruir uma cidade inteira na outra ‘ponta’ do mundo, são consideradas armas que só se lançam para vencer uma batalha

    Também se encontra estabelecido que as armas não passaram a ser controladas pela Bielorrússia, tal iria comprometer o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, em vigor desde 1970, contudo o posicionamento destas em território estrangeiro encontra-se previsto. Inclusive Putin iguala o seu plano de armazenamento com o dos estados Unidos, que também posiciona armas em território europeu, todavia, o transporte de armas nucleares para a Europa integra parte da estratégia defensiva da NATO, explica Stefan Scheller à DW

    O Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos da América já prestou declarações sobre o anúncio de Putin, não se encontrando preocupados com o mesmo. Diz a sua porta-voz “não vemos nenhuma razão para ajustar a nossa própria postura de estratégia nuclear, não quaisquer indicações de que a Rússia se esteja a preparar para usar armamento nuclear”. A mesma ideia é defendida pelo Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), que considera o risco de escalada do atual conflito para uma guerra nuclear, ou utilização de armamento nuclear, “extremamente baixo”.

    Por outro lado, a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares advoga que, no contexto do atual conflito Ucrânia Rússia, o posicionamento de armas tão sensíveis e eficazes num outro território, mais perto do alvo e mais longo do dono, é uma jogada arriscada que pode ter consequências humanitárias catastróficas.  

    Em termos geográficos, o armazenamento destas armas na Bielorrússia diminuiria o ‘tempo de resposta’ da NATO, pela proximidade que estas teriam de novos países como a Polónia, Lituânia, Letónia, todos países membros, e não apenas do alvo atual o território ucraniano. Deste modo, no decorrer dos próximos meses a situação deve ser atentamente vigiada e a intelligence de todos os países deve estar na sua melhor performance dado que a mais absurda ameaça pode ser concretizada por Putin de modo a cumprir o seu objetivo: “um Estado de União de pelo direito”.  

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