Olímpiadas da guerra- a exclusão dos atletas russos das competições internacionais

Fonte: The Toronto Star

Os jogos olímpicos de Paris têm data marcada para o verão de 2024, contudo a questão mais marcante nestes últimos meses têm sido a exclusão dos atletas russos e bielorrussos. A invasão da Ucrânia pela Rússia determinou as sanções que poderiam vir a impedir estes atletas de participar nas principais competições nacionais , a começar pelos jogos de Paris. Já no ano passado, a Confederação europeia de futebol decidiu mudar a final da liga dos Campeões, que iria acontecer em São Petersburgo.

Fonte: Olympics, 2023


Os jogos Paralímpicos de inverno em 2022, sob a alçada de Pequim, foram os primeiros em que o Comité Paralímpico Internacional (IPC) decidiu que os atletas russos não poderiam participar na competição devido à invasão da Rússia pela Ucrânia. Nessa altura, o próprio presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, apelou que as federações desportivas excluíssem osatletas russos e bielorussos das restantes competições internacionais. Contudo o apelo não foi surpreendente, tendo em conta que a Rússia já se encontrava numa posição desfavorável perante o COI desde o escândalo de doping que envolveu os atletas do país em 2014.

Apesar disso, no começo da discussão sobre a mesma suspensão para os Jogos Olímpicos de Paris, o presidente descartou a possibilidade de os atletas russos não poderem participar. Já antes de anunciar uma decisão definitiva, recomendou a participação destes atletas a nível individual nas competições internacionais. As constantes mudanças de posição podem ser explicadas pela pressão mediática e política de que o Comité está a ser alvo durante esta tomada de decisão. A pressão de um grupo de países, incluindo Portugal, que ameaçam boicotar os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, se o Comité Olímpico Interncional autorizar a participação dos atletas russos e bielorussos. O movimento que conta com países como França, Grã-Bretanha, Suécia e Polónia, pretende que o COI clarifique a neutralidade exigida para poderem estar nos Jogos Olímpicos de Paris e, o apoio ao afastamento dos atletas russos enquanto a guerra durar.  Ainda o COI afirmou que "os atletas não podem ser castigados pelo o que fazem os governos dos seus países". Também a ANOC,  Associação dos Comités Olímpicos Africanos, afirmou no mês passado que os políticos não podem exercer poder sobre o desporto que se baseia em valores de paz e solidariedade e que, os atletas devem poder participar desde que não tenham apoiado ativamente a Guerra na Ucrânia.

Assim, a recomendação do COI tem restrições a par com os pedidos da comunidade internacional. Deste modo, os atletas russos e bielorrussos só poderão participar como neutros ou individuais, recomendando ainda que não se mostrem bandeiras, hinos ou símbolos nacionais dos países, não permitindo ainda a presença de equipas da Rússia ou Bielorrúsia, deixando de fora equipas de futebol por exemplo. O Comité pede ainda que não se autorize atletas que apoiem ativamente a guerra na Ucrânia e, também, que sejam membros das forças armadas e de segurança, respeitando as sanções já implementadas contra a Rússia e a Bielorússia. De recordar, que estas afirmações do Presidente da comissão não passam efetivamente de recomendações e não de uma decisão formal ou uma lei.


Fonte: Sapo, 2023

Não obstante, a recomendação do comité não agradou a Ucrânia, que prontamente e, após a decisão final favorável do mesmo á participação dos atletas russos e bielorússios, publicou um decreto a proibir que as suas seleções competissem em eventos onde também compitam estes atletas - deixando-os de fora de maior parte das competições internacionais. Esta autoexclusão inclui torneios olímpicos, não-olímpicos e paralímpicos. 

Os desportos são muitas vezes usados como uma ferramenta de propaganda e afirmação dos Estados, esta pôde ser considerada uma ferramenta de soft power dos Estados no sistema internacional. Estes servem para exaltar os regimes de cada país e as dinâmicas de geopolítica. Países que são mais aptos desportivamente tende a enaltecer ainda mais, como é o exemplo de Cuba. Este país sempre utilizou a sua performance desportiva como demonstração das virtudes do regime, através da sua performance desportiva e na conquista de medalhas. No caso dos jogos olímpicos de Paris, a discussão sobre a participação ou não da Rússia, transporta-nos para o panorama geopolítico observado- a guerra na Ucrânia. Esta guerra que parece não ter fim e tem agora destaque em todos os eventos internacionais, projetando a destruição e o sofrimento que a “operação militar especial” de Vladimir Putin deixa para trás. Além disso, a posição dos países que ameaçam boicotar os jogos demonstra a sua força como uma frente unida que não recua perante a ameaça russa. 

Assim, após os jogos de 1980, o cenário de boicote, causado por uma invasão da Rússia, na altura União Soviética a outro país, é esperado de novo. Dizem que a história tende a repetir-se e, se tal acontecer, o único país que sairá vencedor será a Rússia, fortemente medalhado como foi nos jogos de Moscovo na década de 80. 

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